- És uma sedutora!...
Ela não retorquiu. Deixou o silêncio crescer e ocupar espaço entre os dois, depois atravessou-o para alcançar o outro lado da mesa e tirar um cigarro do maço dele, sem o pedir. Acendeu-o e por momentos, após libertar a primeira baforada de fumo, pareceu tentada a falar. Ao invés...sorriu. Aquele sorriso lânguido e cínico que apenas quem esbanja elogios, por lhe sobejarem, consegue exibir.
Olhou-a nos olhos, brilhantes, fogosos. Ainda o mesmo misto de temeridade e inocência esquecida. Nele, a impressão de sentir a alma revirada e uma compulsão para suster a respiração por tempo indeterminado.
Baixou os olhos para o maço e serviu-se também ele de um cigarro. Bateu-o na mesa, três ou quatro vezes e levou-o aos lábios para o acender. Suspendeu o gesto, em pleno ar, e tornou a encará-la. Ela abandonou o sorriso e inclinou ligeiramente a cabeça, indagadora.
Num impulso, levantou-se. Repôs o cigarro no maço e afastando uma melena, pousou-lhe suavemente um beijo na fronte.
- E um doce... mas isso já tu sabes.
Agarrou no saco de viagem e deixou uma nota em cima da mesa, deixou a esplanada do café e deixou-a a ela, como quem guarda, esquecida, uma velha fotografia numa caixa.
3.X.2008
4 de maio de 2009
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